domingo, 20 de maio de 2007

Iodo - o início















A formação inicial do IODO:
(da direita para a esquerda)

Luís Cabral - teclados
Rui Madeira - vocalista
Tó Pê - baixo
Alfredo Antunes - bateria
Jorge Trindade - guitarra


O Iodo nasce como tantas de bandas de originais ou de covers, que vulgarmente se chamam de bandas de garagem.

As que me lembro aqui da zona, vulgarmente chamada de Margem Sul, ou outra margem, ou lado de lá, ou até margem esquerda, eram o Iodo, os UHF, os Xutos e os Rock & Vários.
Mais tarde aparecem o Grupo de Baile, do Seixal, mas já aproveitando a onda do tão falado Rock Português.
Alguns dos elementos do R&V vêm de uma banda de baile, que ensaiava perto de Azeitão, de nome Turma 66. E alguns fundadores do Grupo de Baile, tocaram no Código.

Na minha opinião e que penso partilhada por outros, a haver Rock Português e Pai do Rock, este nunca seria o Rui Veloso, mas sim os UHF.

Quando integrei o Iodo, já o Alfredo, baterista, tinha contactos com os UHF e com os Xutos. Eles eram para nós o exemplo e a motivação de que uma banda podia tocar rock e cantar em português, e acima de tudo podia gravar.
Os UHF já tinha editado o "Jorge Morreu", e os Xutos, o "Semen".
E o que dizer do êxito obtido com o "Cavalos de Corrida"?
Se ser pai do Rock é vender muito, neste caso os UHF foram-no.
Se era cantar em português, estas bandas já o faziam.
O fenómeno Rui Veloso fez abrir o circuito comercial, a músicos e bandas cantando em português, mas não o chamo de rockeiro. O Rui é muito mais R&B e baladeiro do que rockeiro.

Houve uma colagem estratégica que interessou a todas as partes.

Note-se que não estou a tirar nenhum mérito ao Rui Veloso. Sou adepto desde a primeira hora da obra dele. Conservo intacto o LP "Ar de Rock". São os temas dele que mais canto na minha onda acústica. Afirmo que ele é essencial ao panorama musical luso. Qua a música portuguesa sem ele sería mais pobre. Mas do que se trata aqui é da legitimidade da paternidade do Rock lusitano.

No caso Rui Veloso não podemos esquecer de dividir o mérito à aposta da editora, e ao génio Carlos Tê, pois sem ele o Rui seria muito menos.

E depois vem a questão: o que é rock e o que não é rock. Quem pode a rigor definir a fronteira? Um rock lento é um slow rock? Claro que não. E a que velocidade deixaría de o ser, se o fosse?
Rock cantado em inglês, por músicos portugueses encaixa na definição? Ou será anglo-luso?
Era necessário um rótulo. E este rótulo serviu para dar corpo a uma invasão de bandas que vinha à corrida do ouro, leia-se vinil, proporcionada pela avida procura das editoras.

Podemos também considerar mais outro pai do rock. O Júlio Izidro, que com as suas emissões de rádio em directo do cinema Nimas, ao sábado de manhã, com o seu "Febre de Sábado de Manhã" deu a divulgar ao país inteiro o tão recente fenómeno que era o Rock Português.

Mas era tudo comandado pelas editoras, não tenhamos ilusões. Tal como fora em 74 e 75 com as cantigas de intervenção, após a revolução de Abril, em que qualquer marmanjo vestido de ganga, barbudo e cabelo oleoso pegava numa viola com autocolantes do Che, e ao som dos acordes Dó, Fá e Sol, debitava umas quantas palavas tipo revolução, opressão, ditadura não, morte ao fascismo, etc.

Houve portanto na época um grande aproveitamento por parte de todos os interessados na abertura criada pelo sucesso do "Ar de Rock", e por isso essa onda teve de ter um nome: Rock Português. E teve de ter um pai: Rui Veloso. Já agora me pergunto quem será a mãe, se a Adelaide Ferreira ou a Lena d'Água... Ou o José Cid, que já se auto-proclamou de mãe...

Embora algumas das poucas biografias que rezam sobre o Iodo, digam que nós viemos com o boom, é mentira. Estávamos formados antes, e a trabalhar, embora todos saibamos que seria pouco provável que ascendessemos ao que tivemos se não fosse a boleia do boom.

Por outro lado, eu sempre defendi isso, a volátil projecção do Iodo e outros grupos, pode ter sido causadora de mortes prematuras. Não houve espaços para amadurecimentos nem capacidade para gerir derrotas. Estávamos na casa dos vinte anos, onde todos os sonhos e ilusões ainda nos são permitidos.

Por via da necessidade do mercado, muitos meninos saíram dos seus quartos onde cantarolavam os seus ídolos, e das suas garagens onde arranhavam uns temas ,e são colocados em palcos, com PA's, iluminação, público, programas de tv, top's nos rádios, hoteis, carros alugados, fãs, etc. Isto deslumbra qualquer um, e dá a errada sensação de que tudo é fácil e possível.

Hoje considero que se todos os elementos do Iodo, tivessem percorrido um caminho maior e acima de tudo mais duro, para chegar aos palcos e a um estúdio, o Iodo não teria acabado de forma tão efémera com acabou.

Voltando ao início.

Como já referi no post dedicado ao Eléctrico houve uma dificuldade da minha parte na forma de ensaiar.

Se nas formações anteriores a que pertenci, a música a ensaiar estava feita, e era uma questão de a copiar literalmente, tentando que a execução fosse tão parecida quanto possível ao original, aqui o caso era inverso.

No início íamos desbundando em cima de frases musicais que um ou outro apresentava, mas sem a construção da música definida.


Das primeiras Saídas aos Singles

Foi assim que aos poucos, o "Malta à Porta" e "a Canção" foram construídas. Aproveitando excertos e colando aqui e ali.

Já os temas dos lados B, "Aqueles Dias" e "Pedro e o Lobo" são da autoria do TóPê e minha, embora por acordo geral, os temas seriam registados como sendo da autoria da banda.

No "Malta à Porta", não temos um tema com o corpo habitual numa música comercial ou formal se assim podemos chamar. Ou seja, com introdução, estrofes, refrão e final, e eventualmente um solo a meio. Temos no nosso hit vários fragmentos colados, entre malhas imaginadas individualmente e juntas em grupo. O tema não tem refrão. Tem uma repetição da frase vejo malta à porta, mas que não considero refrão. Começa e termina com um coro "oh oho oh oho" mas com acordes diferentes. Fiz a letra (nunca gostei muito do que escrevo e acho que não tenho a arte) um pouco para forçar a construção da música.



Malta à Porta
(L.Cabral / A.Antunes / Topê / R.Madeira / J.Trindade)

Se pensas em andar pela rua à procura do amanhã
Podes ficar bem contigo, mas não és só tu
Não podes ficar preso a uma ilusão
Tens de ter amigos a quem dar a mão

Não queiras assinar documentos em papel molhado (1)
Pois ao fim e ao cabo sais sempre lixado (2)
Tens de fazer força pelo que há-de vir
Abre a tua mente e deixa-te ir

Deixa-te ir

Vejo malta à porta, vejo malta à porta
Há malta à porta, há malta à porta

(1) plágio descarado ao Sérgio Godinho.
(2) os ventos de censura ainda latentes nos anos 80, levaram o Manuel Cardoso, o nosso produtor a "sugerir" substituir a palavra lixado por cansado, como se ouve no disco.

O lado 2 do single é um tema muito genuíno. Todo construído pelo TóPê. Logo, todo TóPê.
O TP tinha tudo de génio e de louco. A música brotava de dentro dele, enquanto todos nós nos esforçavamos por um pouco de inspiração e originalidade.
O "Aqueles Dias" era um tema bem estruturado, e com muita força, tanto no disco como ao vivo.
Disco colocado no mercado contra a vontade do Iodo, "A Canção" tem como base um trecho musical que o Cabral desenvolveu, do qual sempre gostei partcularmente, que se escuta a seguir ao 2º refrão. A partir dessa composição construí o resto da "canção". É um tema muito "new-wave", não com a força do "malta à porta" mas na minha opinião, com um instrumental particularmente bem conseguido.


No lado 2, está "O Pedro e o Lobo". Para mim o tema mais fraco dos quatro que gravámos no Angel Studio. Mas na altura da gravação não pensávamos que alguma vez a música fosse editada...

Com outros temas originais, e no início recorrendo a alguns temas fortes do "Eléctrico", começámos a nossa incursão nos concertos. A colaboração dos UHF foi muito importante nesse sentido, pois abriu-nos as portas em alguns palcos, onde fizemos as primeiras partes deles. Aprendendo com eles sobre a forma de estar em palco, e tendo acesso à divulgação da nossa música, o que neste início era meio complicado pois todos os nossos temas eram desconhecidos.

DO MAR PARA O ROCK

Com os primeiros concertos, com o mealheiro do Eléctrico, e a agenda razoávelmente preenchida, o Iodo adquire o seu próprio PA da Furacão. Ficando a banda a ter uma total autonomia, não deixando no entanto de aproveitar as boleias que a banda do António Manuel Ribeiro nos proporcionava para fazer as primeiras partes.

Com todos os proveitos que tiramos em nos colarmos aos UHF, fazer as primeiras partes de uma banda cabeça de cartaz é sempre um trabalho complicado. Por tudo. Primeiro porque estamos um pouco à mercê da banda principal, e tudo tem de rodar conforme os seus desejos e vontades.

Desde o horário para fazer som, à disposição do back-line no palco, até ao próprio som que sai tanto para o palco como para o público, tudo está condicionado ao formato da banda principal. para não falar do público que óbviamente está no recinto para assistir ... à banda principal, que neste caso estava "em altas" graças ao estrondoso impacto que o "Cavalos de Corrida" provocou. Estávamos no início de 1980, e antes do "Chico Fininho" já se gritava por esses palcos fora: "agora, agora, agora, agora, tu és um cavalo de corrida..."

No caso dos concertos com os UHF, houve uma aceitação geral por parte do público deles ao nosso grupo, e além do mais as nossa bandas desenvolviam boas relações tanto a nível de músicos, como de road-managers, e roadies. Pelo que o trabalho era mais facilitado.

Além do mais o som UHF e o do Iodo, era totalmente diferente, embora por curiosidade eu e o Renato Gomes, o guitarrista e meu ex-colega de Liceu, tocássemos com duas guitarras exactamente iguais, as Gibson The Paul.

Em outros palcos, com outras bandas, por vezes existiam aquelas corriqueirices típicas da competição que nunca devia existir na música. Tipo chegarmos a um palco e os espaços estarem ocupados tão estratégicamente que ficava difícil colocarmos o nosso back-line de forma a permitirmos criar o nosso espaço habitual.

Música é partilha, logo não pode haver competição, porque não é desporto.

As bandas com as quais estivemos mais à vontade, foram os Trovante e os Jáfumega. Era um respeito mútuo, uma partilha que tinha como objectivo apenas servir quem nos iría escutar.

A pior experiência em tudo foi na primeira parte do Iggy Pop, no Dramático de cascais.Episódio a que me referirei detalhadamente.


E até pisarmos o palco do Rock Rendez-Vous e sermos convidados a gravar um single não demorou muito.
Penso que nenhum de nós pensou viver aqueles tempos de éfemero estrelato.



o pavilhão do Dramático






O IODO nas Paivas em 11.07.1980













13 comentários:

Unknown disse...

Iodo na página 66 da revista Blitz - edição Junho!! ;)

Unknown disse...

*correcção: edição JuLHo de 2007

João Glória disse...

Apesar da minha tenra idade em relação á banda (19 anos!!!!) sou fã para alem de familiar do Luis Sousa (sobrinho), aprecio muito a musica feita pelos que consideros mais uns dos grandes progressos na musica portuguesa do inicio dos anos 80. A par de grandes bandas como os UHF e Xutos, penso que o rumo poderia ser bem diferente. Enfim tenhos vinis bem guardados e um vinil em especial sem rotulo que so diz A e B escrito á mão onde desfilam musicas como Boneca de Cera Cebi. Que me deixa com vontade de ter nascido 20 anos antes. Enfim ainda hoje tive a falar com o meu meu pai sobre si Rui ironia de descobrir que ainda estão "vivos" e continuam a falar dos iodo como de nunca tivessem deixado os palcos.
Grande abraço.

Música disse...

Ao João Glória,
Pelo que me recordo o Luís tem dois irmãos. Gostaría de saber de qual és filho.
O disco que tens, sem rótulo, deverá ser uma das provas em vinil, que editora nos dava antes do LP saír para o mercado. Dessas, tenho uma dos Whitesnake, nas mesmas condições.
Quanto a palcos, nunca os deixei.
A música faz parte do ar que respiro.
Abraço.

João Glória disse...
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João Glória disse...

Rui desculpa pela demora a responder mas a minha vida nem sempre e a net.
O luis e/foi meu tio (divorciou-se da minha tia irma do meu pai). O Luis nunca deixou ser meu tio quanto a questões do coração.
Davamos muito bem e sempre como bom apreciador de musica respeitei o vosso som. Pelo que sei dele esta em Angola ja a uns aninhos com uma nova companheira feliz da vida.

*Aparte* - A minha mae (Helena Francisco não se lhe diz alguma coisa) avistou na semana passada o Rui Madeira aqui na Margem Sul (onde nao recordo com exatidão)

Ja agora eu tou a tentar passar os meus vinis dos iodo para um suporte digital conhece alguma maneira pratica do o fazer?

Agradeço todo o tempo disponibilizado e que estas conversas ajudem a perceber o rumo que cada um tomou.

Unknown disse...

ops! depois de ver o videoclip do malta à porta no youtube vim aqui (ao calhas) ver se havia a letra (e há)! obrigado
devia ter os meus 14/15 anos quando saiu o single, e é sempre com emoção que revejo estas pérolas da minha adolescência.
deixo aqui o meu (anónimo?) abraço.
obrigado.

João Glória disse...
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João Glória disse...
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João Glória disse...
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João Glória disse...
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João Paulo disse...

Tenho 45 anos e tive o prazer de ver os IODO na febre de sábado de manhã no cinema Nimas. Foram uma grande banda e ainda hoje oiço os temas. o melhor de todos os tempos foi o "Expiração de um louco". (Não gosto do sol que ri e zomba,não gosto do ruído que doi e magoa,não gosto do movimento que nos obriga e enerva, só queria para mim, para mim,um pouco de erva). Tenho saudades vossas e de tantos outros que fizeram história no panorama da música nacional. Grande abraço.

jonh disse...

Boa noite,
venho aqui só para dizer que conheço os IODO desde os principios mas depois perdi o contacto até porque eram os meus anos de decisões na vida e não foi fácil, por isso deixei de ouvir(pensava até que tinham mais musicas) e de alguns tempos para cá redescobri o excelente grupo que foram. Muito bons, agradeço ao Youtube que se nao fosse assim muito da musica que conheci e adorei(adoro) pouco ouviria.Assim posso ouvir estas maravilhosas pérolas da musica portuguesa.Excelente vocalista, grande baixo, guitarras ao nivel dos melhores bateria de entrar no ouvido e umas teclas que não existiam muitas em Portugal.Em suma, hoje em dia nao passo um dia sem ouvir.
PS: gostava de saber as letras de todas musicas pois eu ja tentei tirar mas ha algumas frases ou vozes que não compreendo totalmente.Abraço