quinta-feira, 17 de maio de 2007

o pré - Iodo

Conheci o Luís Cabral, no Liceu Nacional de Almada, no Pragal, onde frequentámos um ano lectivo na mesma turma. Estava a a terminar o antigo 7ºano liceal.

Ele já sabia da minha faceta de músico, mas eu não sabia que ele tocava.

Uma vez, ele e o Rui Madeira, tinham-me visto tocar na SFUAP, Cova da Piedade, e gostaram dos meus solos à Santana retirados do Abraxas.

Nessa época, eu já tocava com o meu grande amigo Raúl Alcobia, nos Sound Five, e fazia o que podia com a minha Eko, amplificada pelo Yamaha, que ainda hoje conservo e a funcionar, e um pedal Elka de fuzz, muito em voga naqueles tempos.

Ainda no Sound Five vendi a Eko a não sei quem, e comprei uma Ibanez, na Custódio Cardoso, que era uma cópia descarada de Gibson Less Paul.
Para a época já era um guitarrão.


Dos Sound Five, o Alcobia foi para o Código, substituír o Espírito Santo, que viría a ser baterista dos UHF. E um pouco mais tarde houve uma vaga para guitarrista no Código, e o Alcobia tratou de me propor para preencher a vaga.

Pelo Código passaram músicos excelentes. O Virgílio, que chegou a ser vocalista dos Hossana. o Raminhos, trompete e trombone, que veio a integrar o Grupo de Baile. O Fernando Emanuel, hoje maestro, e já na altura um pianista apuradíssimo,e que vim a reencontrar recentemente no Baía, na minha actual actividade musical.

Nesses entretantos, e sempre que podia, eu exercia as funções de músico no Selim, uma boite muito famosa na época. Ali, evoluí muito com os músicos residentes. O Nelo, baixista na orquestra da EN, e também guitarrista, com uma excelente guitarra Burns, o "Gingalhinhas", um baterista do caraças, o Deniz, teclista e flautista, outro músico "enorme", que gravou um EP para a etiqueta Zip-Zip, e o Laureano, saxofonista, que tocava no Programa da Cornélia, na RTP 1.
No Selim, eu fazia as folgas dos músicos residentes, e tanto fazia a guitarra ou o baixo.
Mais tarde venho a fazer as folgas de domingo, nas teclas, com o Luís "Louco", e os irmãos Andrade, bateria, e guitarras, do Grupo de Baile.

No Código tocávamos a rigor temas dos Chicago, Blood,Sweat & Tears, Ekseption, Stevie Wonder, etc.



Hoje pergunto-me como era possível o pessoal dançar temas como Make me Smile, Saturday in the Park ou Spinnig Wheel. Músicas de grande qualidade mas que convenhamos, não eram lá muito dançaveis.

É no Código que adiquiro o potentíssimo Farfisa que mais tarde viría a ser o back-line do Cabral durante a minha permanência no Iodo.

Venho a reencontrar o Cabral num concerto do Ian Gillan, já a solo, no Estoril, nos finais de 1979 ou no início de 1980. Estava um pouco à toa em matéria de futuro musical, pois o Código estava a dissolver-se ou em vias de. Ele falou-me que tinha um projecto musical que passava por tocar temas apenas originais e cantados em português.

Com 22 anos, e uma considerável estrada de palcos, queria algo diferente, pelo que o projecto do Luís Cabral, parecia uma lufada de ar fresco. Esse projecto estava meio embrionário, tinha o nome de Iodo, nome alusivo ao iodo do mar, e integrava o Cabral nos teclados, com um recentíssito ARP que ele trouxe pessoalmente dos EU, e um sintetizador monofónico da Roland. O Alfredo Antunes, cujo zelo pelo estado imaculado da sua bateria logo me chamou a atenção. Note-se que eu vinha de um ambiente diferente, em que não havia um cuidado particular com o equipamento. E o TóPê, o baixista, músico que quando estava inspirado tirava a respiração a qualquer um. O TóPê era a veia inspiradora do Iodo. De certo modo um génio, com milhentas ideias na cabeça e alguma dificuldade em articular o que de dentro lhe saía. O TóPê tinha conflitos com os mais elementares valores que nos regem, como por exempo, horários, compromissos, etc.

E é assim que no início de 1980, começamos a ensair.

Havia um problema que à partida era preciso resolver: nao tínhamos baixo, nem amplificador para o baixo. Se por um lado eu queria algo diferente na música, por outro, o ritmo de ensaios e palcos a que vinha habituado, fazia-me falta. Além do mais, a banda precisava de dinheiro. E decidimos arrancar com um grupo paralelo, cujo principal objectivo era fazer bailes, para angariarmos fundos para a compra de equipamento. E é assim que nasce o grupo de baile O Eléctrico. Nome sugerido e aceite pelo Tó Pê.

Houve uma inicial dificuldade de adaptação ao modo de ensaiar. Eu vinha habituado ao rigor quase militar da estrutura de ensaio, que os metais do Código impunham, ou não fossem eles músicos da banda da GNR... Por outro lado este pessoal gostava de deixar a música fluir através de fragmentos de inspiração, de uma ou outra malha, ou pequenos excertos criados, e que numa forma de desbunda, daría origem a um tema.

Pode dizer-se que os mesmos músicos, com o mesmo equipamento, na mesma sala de ensaio, vestiam duas personalidades. Uma apenas prática e técnica, desprovida de qualquer inspiração para colocar o Eléctrico em marcha, e outra baseada na inspiração, troca de ideias, de letras, de acordes, esta sim já dando largas a qualquer modo de inspiração, e permitindo uma quase total liberdade na criação dos temas originais.

E cerca de um mês depois de começarmos a ensaiar, o Eléctrico fez a sua estreia na nossa casa mãe, se assim podemos chamar-lhe, no Centro Cultural do Alfeite , a 16 de Fevereiro. A proposta era simples: fazermos os bailes de Carnaval, à percentagem. Desses bailes, seis ao todo, conseguimos apurar 12.000$00... Mas o Eléctrico estava lançado.

Umas quantas cartas às colectividades, clubes e comissões de festas, serviram para colocar o Eléctrico em andamento. E começamos a angariar o tal necessário dinheiro. Assim que pudemos, adquirimos um HH para o baixo e uma guitarra baixo Ibanez, sem trastes, que mais tarde sería vendida ao Tim, dos Xutos.

Em Abril entra o Rui Madeira, para vocalista. Amigo de sempre do Cabral. Ele estava um pouco fora do projecto por vontade própria. Eles. o Madeira e o Cabral eram tal como eu e o Alcobia, amigos de infância, e partilhavam aquelas saudosas escutas de vinis que duravam horas.

A onda deles ía desde Deep Purple, Mike Oldfield a Motels.

O Madeira delirava com aqueles agúdos tirados da
voz do Ian Gillan, que influenciou muitas performances
de palco. E nos discos que gravámos.



A minha onda era muito Genesis e
Supertramp. E também partilhada pelo Alcobia.

Esta é a fase pré-Iodo, em que tivemos de nos adaptar uns aos outros, tivemos de usar de algum modo prático e comercial para conseguir angariar fundos para o suporte de material do Iodo. Ao mesmo tempo que começámos a compor e ensaiar os temas originais.

Creio que a fase do Eléctrico serviu também para nos rodar, e nos familiarizar com a estrada, pura e dura. Ora tocando em bons palcos e boas salas, com boas condições, ora tocando para a Comissão de Festas do Retaxo, em palcos improvisados.

Ao todo o Eléctrico teve 78 actuações até 23/06/81. Em Casebres, perto de Alcécer do Sal.

Apesar do propósito financeiro, o Eléctrico, foi uma saudável banda de bailes, com características muito invulgares, observando os padrões seguidos na época, e até mesmo nos dias de hoje.

Vestíamos todos de igual, umas roupas diferentes do convencional, confecionadas pela mãe do Cabral, que tinha uma fábrica de confecções. Era uma calça larga, azul escura, que contrastava com as calças justas tão na moda, e uma camisa de gola à padre, também azul. E calcávamos sapatinho branco.

Junte-se a isto uma grande dose de irreverência em palco, e um reportório ousado, e temos a receita para um grupo de bailde de sucesso.

Em parte a influência roqueira dáva-nos o mote para a tal irreverência, e muitas vezes tornámos actuações em pequenos concertos. Por isso tocávamos Devo, Pink Floyd, OMD, Buggles, com alguma fidelidade aos originais, bem como na hora de tocar músicas calmas, os chamados slows , tocávamos uma hora seguida para bom proveito dos casalinhos...













7 comentários:

Anônimo disse...

alô velho irmão estás em grande forma aquele abraço a que só os amigos dão valor LUIS BORGES

Pisca disse...

Descobri o blogue por mero acaso e não é que vou dar de caras com referências ao código ?
Só para cumprimentar. Fui baterista no Cádigo na sua primeira formação, antes do Espirito Santo, e ainda com o Valdemar (onde andará ?) e o velho Macedo Pai a discutir com o filho o tempo todo dentro da carrinha e eu no meio a meter calma.
Em cima a tralha toda, a chuva a caír aos potes e nós estrada fora, enfim anos de 1972 a 1974.
Um ABraço

Pisca disse...

Descobri o blogue por mero acaso e não é que vou dar de caras com referências ao código ?
Só para cumprimentar. Fui baterista no Cádigo na sua primeira formação, antes do Espirito Santo, e ainda com o Valdemar (onde andará ?) e o velho Macedo Pai a discutir com o filho o tempo todo dentro da carrinha e eu no meio a meter calma.
Em cima a tralha toda, a chuva a caír aos potes e nós estrada fora, enfim anos de 1972 a 1974.
Um ABraço

Unknown disse...

Jorge, fiquei parvo com todos os pormenores , datas,locais e até cachet não fazia a minima deste historial.
grande abraço
Alfredo

Música disse...

Ao Pisca,
Tanto quanto sei, o Valdemar foi para músico de um circo no Canadá.
O Zé e o velho Macedo,continuei a estar com eles até 1999,pois o Código foi resposto,como quarteto,com o Alcobia e o Zé Macedo,até esse ano.
Abraço.

Anônimo disse...

Não irei comentar.Dei aulas de Português e Francês de 1973 a 1982.
O meu nome é Isabel Camarinhas.
Terei sido vossa Professora? Que saudades tenho do meu Liceu!!! Aí fiz estágio com o Dr. Cachapuz, entretanto falecido.Com o Dr.Jorge, q. dava, tb.,aulas no Colégio Frei Luis de Sousa. Que bom seria se tivesse sido Prof. de alguém, desse grupo.Abraço.Isabel.

Música disse...

Para a Isabel,
Tanto quanto sei, o pessoal andou no Liceu D.João de Castro, mais tarde o Nacional de Almada, e na Emídio.
Abraço.
Jorge Trindade