sexta-feira, 25 de maio de 2007

da sala de ensaios para o Estúdio




A 3 de Fevereiro de 1980, o Iodo faz a sua estreia no Rock Rendez-Vous.


Ao entrar pela primeira vez no RRV, tive um misto de sensações boas. Nada do que eu vira até ali se comparava com o RRV. A sala parecia perfeita para tocar. A acústica, a envolvência, o palco não muito grande mas perto do público. Tudo isso nos impressionou.


Lembro-me de ir para o 1ºandar, vulgo balcão, onde se situava a regie, e escutar o recentíssimo Abacab dos Genesis. O som era muito bom. Dos Genesis e do RRV.




O back-line desta formação foi sempre o mesmo.



O Cabral, com um ARP e um sintetizador Roland nos teclados, amplificado pelo Farfisa.



O Tó Pê, com o baixo Ibanez, e o amplificador HH.

O Alfredo com a sua irrepreensível e imaculada bateria.


E eu com a Ibanez, cópia descarada da Gibson, que aparece nesta deslavada foto, e o meu fiel Yamaha.

Tocar no RRV teve vários saldos positivos. O prestígio, a publicidade (na época eram publicitados os espectáculos no Sete), e o mais importante, o contacto para a gravação do disco.

A mim em particular, trouxe-me uma prenda inesperada. A Gibson.

Tinhamos agendados dois concertos, um no dia 3 e o outro a 5. No dia 3 a coisa correu bem, para a primeira vez, mas deparámos-nos com uma dificuldade de amador. A minha Ibanez desafinava com facilidade, e isso não se podia admitir numa banda à séria. Por outro lado fazia falta uma 2ª guitarra, pois é não raro um corda se parte num"esgalhanço" mais inspirado, ou numa palhetada mais agressiva. Mis e Sis era sempre a aviar.
E é assim que o Iodo decide comprar uma guitarra no dia 4, na Custódio Cardoso, ali no Chiado. Haviam umas quantas guitarras, não muitas, e em destaque a The Paul, marcada por 60 contos, e foi essa que veio conosco, por 54...

Guitarra que me tem acompanhado por todos estes anos!!!

Num desses dois concertos no RRV fomos abordados por um personagem conhecido das lides musicais desde os anos 70. O Manuel Cardoso, que há época tinha como projecto pessoal a figura do Frodo, numa pausa aos Tantra. A proposta era irrecusável: o MC estava a iniciar a sua carreira de produtor e tinha como missão a de recrutar bandas para gravar pela Vadeca, e ele ouviu-nos, gostou, e ali estava. Claro que aceitámos, e em pouco tempo fomos assinar contrato na sede da Vadeca, dando início a algo verdadeiramente novo na vida de todos os elementos do Iodo.

Havia que preparar a imagem, dando início a sessões fotográficas. Os temas a gravar, de onde seríam escolhidos dois para o single. E agendar compromissos, tais como entrevistas para jornais e situações promocionais. E mais tarde a gravação do tele-disco.

As fotos queriam-se temáticas. Aproveitámos o nosso slogan "do mar para o rock" e fomos fazer fotografias para a Costa da Caparica, literalmente no mar. Na minha opinião, e transportando-nos à época, creio que o mote era bom, e causou algum impacto e até polémica, ver cinco gajos, vestidos, dentro de água, com instrumentos e tudo. Lembro-me que a Ibanez ficou com alguma sal-moura depois da dita sessão fotográfica. Segundo a contra-capa dos singles as fotos são do Luís Vasconcelos.


O tratamento dos temas selecionados foi feito na nossa sala de ensaio. Havia que selecionar quatro temas que seriam registados no estúdio, para editarmos 2. Os temas foram arestados ou formatados às normas ou exigências do mercado, levando uns cortes aqui e ali, uns retoques acolá, e até uma ligeira censura na letra do Malta à Porta.


Gravámos os 4 temas em dois dias, no Angel Studio, com o Manuel Fortes como técnico de som e o Manuel Cardoso, na produção.


A esta distância, ou seja, hoje, eu não tenho nenhuma dúvida em afirmar que o som Iodo é o som destes temas que gravámos. Era o som que nos caracterizava, que tocávamos em palco, e que de certa forma espelhava um trabalho colectivo, em que todos participam de igual forma.


Escutando os singles, e o LP, e comparando com os nossos concertos vemos que o som Iodo, dos singles é o que tem aquela garra e vivacidade, perdida práticamente no LP, salve-se uma tentativa no "Expiração de um Louco".


A passagem pelo Angel Studio foi tão volátil como a carreira dos Iodo. O que interessava era colocar os temas em fita, sem haver tempo a gastar, pois uma hora de estúdio custa dinheiro. Contudo nos quatro temas ficou fielmente registado o nosso som, e quem nos ouviu e viu ao vivo não encontrou grandes diferenças.


A voz do Madeira, a marcação do Alfredo, o som inconfundível do Luís, as malhas do Tó Pê, bem como os meus solos, estavam ali nos discos, tal como nos palcos, embora ao vivo o pessoal estendesse um pouco mais os temas, e principalmente após a saída do Malta à porta.


Sem fazermos ideia do que se iría passar, o nosso primeiro single tem um exito e aceitação muito considerável, tendo alcançado boas permanencias nos tops do Rock em Stock e do TNT, os programas de rádio mais escutados pela malta roqueira.
E a partir deste lançamento tudo foi mudando. O Iodo estava nas rádios, nos jornais,e até na tv, onde no seu sketch semanal o Herman José, fez uma versão do Malta à Porta em ritmo latino, com o seu personagem Tony Silva.



2 comentários:

Mário Jader disse...

Passa pelo Virtual-Rock e participa na Jukebox. Espera novidades sobre o Alive e de novas análises.

Cumprimentos, Virtual-Rock

Mário Nunes disse...

Gostaria que visitasse o blog http://kafekultura.blogspot.com, está lá um texto sobre os IODO.
Foi pena terem acabado.
Cumprimentos.
Mário Nunes