quarta-feira, 27 de junho de 2007

dos singles à remodelação




A máquina discográfica é essencialmente para fazer dinheiro. Embora tenhamos que entender o prisma comercial, não podemos aceitar certas aberrações que em limite do ridículo colocam no mercado vómitos tais como o Zé Cabra, enquanto outros critérios de cabeças brilhantes não gravam a Marisa ou o Carlos Paredes, daí que certos registos destes colossais artistas só estejam disponíveis em editoras de Europa à qual nos dizem estamos inseridos.


Quero com isto dizer que as editoras põem e dispõem. E tão mais quanto o artista ou a banda sejam pequeninos no seu tamanho.


No nosso caso, verificámos que a nossa Vadeca, no embalo do êxito do Malta à Porta, pegou no material que estava gravado e lá vai disto, lançou mais um single.


Lembro que na altura o Iodo não aprovou muito bem a ideia, pois não considerávamos os temas muito fortes, ou tão fortes com os do 1ºsingle.


Na óptica da editora, era preciso dar continuidade ao exito que a banda estava a obter, e nada mais que o lançamento de um 2º single para demonstrar que o Iodo estava em altas.


O sucesso deste single foi bem menor. Digamos que viveu as sobras do Malta à Porta. Não houve 1ºs lugares nos tops, nem causou tanto impacto no geral.


Musicalmente creio que está na linha e estilo que praticavamos em palco e é coerente nestes


dois discos.


Este disco serviu para uma coisa muito importante para quem era fã do Iodo. A partir daí o nosso público conhecia quatro temas nossos, e em concerto isso faz muita diferença.


A aceitação de temas conhecidos é muito maior, bem como a participação do público.




Esta é a época em que a nossa agenda de contratos se multiplica. Em que chovem pedidos de preços. Em que nos tornamos solicitados.
E assim, o Iodo teve nesta época uma fase estável e progressiva, não sem existirem alguns problemas com a disciplina, no que toca ao TóPê, que tinha uma enorme dificuldade em se integrar no nosso mundo. Ou seja, com o crescimento do Iodo, em termos de ensaios, actuações, promoção, compromissos vários, tornou-se necessário um rigor de horários, e isso para o TóPê, não fazia qualquer sentido. Acredito que muitas hostilidades que ele provocava, não era mais que uma forma de ele nos desafiar, pois ao desafiar-nos estava a desafiar e a contestar todo o sistema, e o TóPê era um puro. Um génio puro, cujos padrões eram incompatíveis com os padrões da sociedade, onde o Iodo estava inserido.
E temos com exemplo o TóPê a saír do palco, em plena actuação, a no meio de uma música tirar o baixo e começar a bater com ele no chão do palco, provocando um mega feed-back de graves em todo o PA.
Tenho que aqui referir dois episódios, do melhor que guardo do TóPê,durante este período:
-Estavamos em Castelo Branco, eu ele e o Alfredo, numa pensão onde pernoitamos, com horário marcado para saír, e o Tó não saía do quarto. A malta batia, batia e nada. Nem sinal do TòPê, nem com murros e gritos.
Ao fim de uma boa hora, finalmente ouvimos de dentro do quarto esta frase:
-Sua excelência está a descer.
O gajo estava a cagar.....E o tempo todo de espera se deveu ao facto de ele se sentar na sanita UMA HORA à espera da vontade fisiológica.
-Integrámos um grupo de artistas e bandas que se reuniram no Rossio em torno de um concerto cujo tema era manifestarmo-nos contra as armas nucleares. O nome do evento era No nuks.
A dado momento, e já quando estavamos num improvisado camirim, fardados com o nosso fato azul, à espera que a banda que nos antecedeu tocásse o seu último número, o TóPê vira-se para mim e pergunta:
-Ó Trindade, nós vamos tocar num espectáculocontra as armas nucleares, estamos a manifestar-nos contra,não é?
Eu, habituado a perguntas desconcertantes dele respondi paternalmente:
-É, estamos a manifestar-nos contra, tocando no evento.
Ele:
-E se não tocássemos?
Eu:
-Bem se agora não tocássemos, depois de estarmos anunciados, seria uma bronca.
Ele:
-Mas era considerado contra na mesma!
Eu:
-Bem, se não tocássemos seria verdadeiramente polémico. Devia causar muito mais impacto.
E foi o que ele quis escutar...
A outra banda entretanto termina, vem alguém dizer-nos que dali a 10 minutos subimos. Passam os 10 minutos, o Iodo é anunciado lá em cima do palco. Existiam uns degraus a subir até lá, subo os degraus e recebo a guitarra do meu roadie, e a seguir devia subir o TóPê,cujo roadie, já segurava a guitarra. E o TóPê desata numa correria pelo Rossio fora...
O pessoal todo: o Tó fugiu!!!!
Eu:Agarrem-no, vão atrás dele, que o gajo não quer tocar.
E o TóPê foi agarrado ao pé do Tivoli, que para quem sabe dá uma boa corrida.
O resultado é que o Iodo deu o concerto, com o TóPê a ser vigiado de perto por todo o staff , e de facto causou polémica.



Entre outros contratos surge-nos um convite para em 26/06 fazermos a 1ª parte do Iggy Pop, o gajo do Wild One.

Foi um misto de orgulho e vaidade com um certo pânico de nos vermos com tão grande responsabilidade.

Quem conheceu o Pavilhão do Dramático de Cascais, como eu, e assistiu a um concerto daqueles em que o pessoal se comprime todo até não caber mais um, e levar com aqueles mega-watts todos na carola.


Como poder descrever o peso que teve para mim, saber que ía tocar no Pavilhão, onde anos antes na forma de fâ incondicional dos Genesis , assisti ao concerto mais que histórico deles em 75, com todo o mediatismo e grandiosidade que envolveram esses dois espectáculos, na Catedral, assim era chamado o Dramático.

De repente, embora não o sendo na verdade, pois houve um percurso, eu estaria do lado de lá, no palco, em vez de ser mais um gajo na assistência a debater-se por um lugar melhor.
Creio que eu e o Alfredo, devido à nossa idade e experiência, acusámos mais que os outros elementos da banda, o verdadeiro peso de ali actuar. A responsabilidade de saber pode colocar-nos de sobreaviso, mas também nos trás o receio e o nervoso muidinho, que em cima do palco... deixa de ser miudinho.
O Luís e o Madeira, viviam só o entusiasmo, E o TóPê, na sua quase permanente alienação ao mundo real, creio que considerou este desafio como apenas mais um concerto.
De qualquer forma, nenhum previa o desastre que iría ser, a que considero a nossa pior actuação, e por conseguinte uma grande desilusão.